terça-feira, 10 de maio de 2022

_ das brasilidades


Não perder a brasilidade e estar fora do seu País é viver duplamente . Lá e Cá.
O sol tropical  está impregnado no corpo e compensa a falta de luz e o ar opaco dos primeiros dias ... Árvores nuas Vento frio e Sol medroso . A primavera inicia seu reinado com flores brotando nos campos na mágica dos ventos.  Sem que se perceba, as árvores iniciam a transmutação de galhos secos numa variedade de verdes. Vestem-se a rigor para a chegada do verão.  As manhãs de céus azuis faz lembrar a minha janela, em parte, porque quando penso que acordei já é meio dia. Em troca, os entardeceres são longos demais e preciso deixar  o sono à revelia do fuso-horário.

E agora  os temperos? tão diferentes e sofisticados que esqueço dos meus bolos de laranja e dos doces de banana caramelizada e me rendo aos queijos e vinhos ,aos légumes à grignoter ,aos pickles de radis roses , aos profiteroles  aux fraises  e por onde ando tento entender o que me falam, com um sotaque tão estranho
 que entranha ... 

Não vou perder a brasilidade.
Só sentir muita falta dos Alpes gelados, da neve que não vai cair na minha janela ,dos lagos verdes-musgo e azuis profundos, dos chocolates suiços ,dos rostos sérios cobertos por cachecóis e mantôs que vestem os homens e os fazem muito elegantes.
E tentar não murmurar quando sentir um sol tórrido_ lembrar dos que são resistentes ao furar a bolha e sair a passear nos parques e jardins, nos pequenos e furtivos raios de sol. 

Vou morrer de saudade de uma rua que abriga uma família muito amada e linda. Pedaços meus.  Estou contente da volta  para casa . Ver o mar , caminhar na areia da praia ,beber água de coco nos quiosques , paparicar a pitty , tomar posse da minha cozinha e dos meus doces de frutas tropicais, ( não existe melhores  frutas que as nossas)

Para retomar a brasilidade de fato e de direito precisava encontrar uma nova bossa-nova, um inverno mais invernoso, um novo Sertão Veredas e especialmente e Urgentemente um novo Governo .

O resto são costumes. E poesia.
Quando possível (nem sempre é possível), um pouco de ficção romantizada.
Só a realidade , nunca basta.

E segundo Manuel Bandeira:  'A vida é um Itamarati'.

( liscosta) maio, 2022 
simplesmentelis, outroblog

10 comentários:

  1. Um texto muito bem escrito que, lendo e relendo, me deixou em intensa e profunda reflexão sobre os efeitos e causas da vida, de pessoas que estão fora do seu País.
    .
    Saudações cordiais … boa semana.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Pois é, um texto delicioso, cheio de sabores... Como diria Caetano Veloso "totalmente demais".
    Como imagino que a mala ainda não está arrumada, há tempo para novos exercícios de prosa poética e ávida degustação dos seus viciados leitores...
    Um abraço, Lis!

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    1. Não deixe o leite e o açúcar borbulhar no tacho, quando estiver em Niterói depois de amanhã, conte o inverso.
      Um abraço, Lis!

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  3. Te entendo muito bem! Dois corações,não é? Lindo demais teu texto. Digno de publicação! beijos, chica e tudo de bom!

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  4. Seres/estares cá e lá em simultâneo, é isso que te torna ubíqua, Lis...

    Um beijo!

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  5. Adorei o poema
    lindíssimo
    Beijinhos

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  6. Se trocasses o título
    Se trocasses alguns sabores
    Se trocasses alguns odores
    Se lhe chamasses
    portugalidades
    ninguém sentiria as diferentes
    ou não fossemos
    povos irmãos...

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  7. Encontros e despedidas. A saudade que deixa, a saudade que ficou, os cheiros de cá e os lá. Os sabiás de praia, os pardais. Os doces e bolos o cheiro de feijão e arroz no alho. Talvez o melhor lugar do mundo seja aqui. Talvez as gente volte a sorrir depois de uma pandemia. Depois de um governo desastrado que fecha um mandato sem mostrar a que veio.
    O mar ainda é um lugar bom de se viver e passear e o Rio continua lindo.
    Bjs e paz no seu cantinho.

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  8. Boa tarde de paz, querida amiga Lis!
    Já morei fora do meu país e o que matou foi a saudade dos que ficaram.
    Adapto-me bem às culinárias e culturas locais.
    Sentia também a falta do feijão, na época. Hoje, nem como quase.
    Tenha uma nova semana abençoada de paz!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  9. Um texto maravilhoso... que não poderia traduzir melhor, as mudanças sentidas, em tempo de viagem... mas que também nos recordam da nossa essência...
    Adorei cada palavra, que o seu coração ditou! Beijinhos
    Ana

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